Começo o texto com a palavra suicídio e não depressão. Estamos mais habituados a saber que depressão não é moleza, falta de Deus ou qualquer outra coisa que diminua a dor e a doença da pessoa. Mas não estamos acostumados a ver nos textos e em conversas nas relações interpessoais que suicídio não é falta de Deus. Por quê?
Uma explicação para a analogia entre o suicídio e a “falta de Deus” é a relação existente, por exemplo, na bíblia cristã.
Se você é cristão, sabe que na bíblia existem pontos que podem ser interpretados como se o suicídio fosse um pecado e que o mesmo não teria perdão. Ou se você possui outra religião e ela segue o mesmo raciocínio sobre. De forma resumida teríamos três situações: Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno; Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria; Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação. Uma interpretação mais contemporânea e com mais bom senso defende que depende apenas do criador saber se aquilo vai definir ou não a pessoa que cometeu o suicídio. O ato em si não julga toda uma vida. Mais precisamente, existe o perdão para o pecado de cometer o suicídio assim como existe o perdão para outros.
Pausa: acostumem com a repetição da palavra
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suicídio representa 1,4% de todas as mortes em todo o mundo, tornando-se, em 2012, a 15a causa de mortalidade na população geral; entre os jovens de 15 a 29 anos, é a segunda principal causa de morte.
Suicídio é o ponto final de uma história muito longa, dolorosa e que cresceu de forma a ocupar e oprimir tudo que cabe dentro de uma pessoa. Isso não pode ser culpa de uma razão apenas, ainda mais direcionada a uma visão religiosa e exclusiva.
Não é culpa de quem suicidou, não importa a justificativa.
Não
É
Culpa.
As pessoas que lutam contra a depressão tem diversos obstáculos em sua caminhada e uma delas é lidar com pré-conceitos. A desinformação unida ao fanatismo leva pessoas com uma bondade infinita a desistiram cada vez mais de si e do tratamento proposto. Desistem do consolo entre as pessoas mais próximas, porque, se ele mesmo tem falta de Deus, do que adianta ter a presença dos outros?
Como médica, prefiro pensar que o suicídio tem um universo de fatores congruentes e somatórios que definem a depressão e com seus fatores de piora e melhora. Então temos o ambiente, família, trabalho, perspectiva e história pessoal, entendimento de mundo, escolaridade, amigos, comunidade, saúde pregressa e outros tantos. Eles não funcionam como algorítimos exatos, oscilam conforme a idade do paciente, evolução da doença e o contexto aplicado.
E por isso enfatizo em minha prática que o suicídio não é a falta de Deus. A verdade é que não existe relação nenhuma entre os dois. Nem para os que creem em Deus, nem para os que não acreditam.
O suicídio está dentro do universo da depressão.
Cada pessoa carrega sua história, seu tratamento e sua jornada.
Falando ainda dentro do contexto de saúde, cabe a mim e tantos outros profissionais transmitir informações corretas e desvincular essa ideia maldosa de que a falta de Deus seria a explicação para quem comete suicídio.
Vou deixar aqui o link do MS com informações sobe o centro de valorização da vida, sinais de alerta, vídeos e artigos relacionados ao tema.
http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/suicidio
Até o próximo texto.
Ótimo texto Bárbara, eu sempre falo que quem comete suicídio é egoísta porque eles não pensam nos que ficam e nas consequências. Mas sabemos que o suicídio é uma doença e o seu texto explica muito isso. Parabéns.
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